História


Conhecer a Casa dos Rapazes de Viana do Castelo

Num contexto histórico-social marcado pela pobreza, mendicidade, abandono e orfandade, em 13 de Janeiro de 1952, pela determinação do Cónego Constantino Macedo de Sousa e um grupo de católicos de boa vontade, iniciou a sua atividade a então chamada Casa dos Rapazes da Rua que, em instalações alugadas na Rua da Bandeira, assumiu o objetivo de acolher crianças e jovens do sexo masculino, pertencentes a famílias desfavorecidas.
Cónego Constantino Macedo de Sousa
Fundador da Casa dos Rapazes
1924-2005

A intervenção com crianças e jovens em situação de risco

Inicialmente funcionando em regime de centro de dia, eram apenas 15 os jovens acompanhados, tendo sido desenvolvido todo um trabalho de campo e de recolha de informação, de forma a tomar conhecimento de quais seriam as famílias que necessitariam de maior apoio, constituindo-se assim o primeiro grupo de crianças e jovens integrados na instituição.

Desde logo a Casa dos Rapazes, paralelamente com a ação assistencialista, assumiu igualmente objetivos de preparação para a vida ativa profissional dos jovens acolhidos e instalou, em 1954, uma Oficina de Encadernação que mereceu reconhecimento de qualidade dos seus clientes, de tal modo que, em Junho de 1959, inaugurou uma designada Escola Tipográfica graças a equipamento de tipografia generosamente adquirido e oferecido pela Direção da Associação Patriótica Nun' Álvares.

Esta Escola Tipográfica foi inicialmente instalada no r/c do edifício da Rua da Bandeira, propriedade então do Orfanato e Oficinas de S. José mas onde, como inquilina se tinha instalado a Casa dos Rapazes, tendo mudado de localização, em 1969, para novo espaço na Rua de Sto. António onde continua a funcionar como Gráfica da Casa dos Rapazes.

No que respeita à missão principal da Casa dos Rapazes da Rua, cada dia mais integrada na cidade e no carinho da sociedade vianense, foi dado passo significativo na sua consolidação e reforço da capacidade de intervenção em prol de tantas crianças e jovens com a decisão, ocorrida em Fevereiro de 1972, da sua fusão com o Orfanato e Oficinas de S. José que igualmente acolhia, desde 1933, crianças carenciadas, tendo surgido a nova Instituição Casa dos Rapazes e Oficinas de S. José que viu os seus primeiros estatutos publicados em 11 de Maio de 1972.

Com a mudança democrática da sociedade portuguesa ocorrida em 1974, foram implementadas novas políticas sociais, mais atentas e exigentes, de onde resultaram a celebração de Acordos de Cooperação com a Tutela que aportaram novos recursos, nomeadamente a partir de Julho de 1982.

Este contínuo crescimento da capacidade de intervenção teve um momento que importa realçar, pois traduz uma visão de futuro da Direção da Casa dos Rapazes, consubstanciado na constituição de uma unidade residencial para os jovens que chegavam à idade dos 18 anos e ainda continuavam a necessitar de apoio na transição para o mundo laboral e a sua plena autonomia.

Assim, em 1995, com apoio do Ministério da Tutela, do Governo Civil e da Câmara Municipal são adquiridos dois apartamentos na Rua de Sto. António que devidamente remodelados permitam a instalação da unidade pretendida. De referir que todo o seu recheio, mobiliário e equipamento, foi obtido por numa campanha “porta a porta” conduzida por voluntários amigos e dirigentes da Instituição.

Apesar de toda a boa vontade este projeto terminou a sua atividade dois anos depois, sendo retomado em 2006 já com o objetivo de ser uma valência de apartamento de pré–autonomia, onde acolheu 10 jovens com idade entre 16 e 21 anos, num ambiente humanizado, seguro e confortável, onde se reforça e acompanha a sua capacidade para conduzirem, num futuro próximo, os seus próprio projetos de vida. Importa referir que este projeto foi totalmente suportado em recursos humanos e financeiros pela Instituição.

Esta iniciativa de autonomia acabou por ser reconhecida pela Tutela tendo, em Dezembro de 2013, sido assinado um novo Protocolo que permitiu a comparticipação do Estado na instalação e funcionamento dos dois atuais apartamentos de autonomia que acolhem dez jovens, igualmente com idades entre os 16 e os 21, mas que, em determinadas circunstâncias, pode chegar até aos 25 anos de idade.

Anteriormente, traduzindo mais uma vez a determinação dos seus dirigentes em reforçar a capacidade de intervenção da Instituição, foi estabelecido com a Tutela um acordo que permitiu, a partir de 2003, iniciar o processo de qualificação dos seus recursos humanos, através da contratação de um diretor técnico com a missão de reestruturar o funcionamento organizacional da instituição, sobretudo ao nível do aumento da capacidade e da qualidade da resposta social e da melhoria das condições de salubridade, conforto e segurança do Lar.

Em 2008, foi celebrado o Protocolo do Plano DOM-Desafios, Oportunidades e Mudanças – que visava incentivar a melhoria da promoção e proteção dos jovens acolhidos em Lares com foco importante na definição e concretização de um projeto que promovendo a desinstitucionalização lhes garantisse a aquisição de uma educação para a cidadania e de autonomia, promotora do seu desenvolvimento integral.

O Plano Dom permitiu à Casa dos Rapazes, não só a criação de uma Equipa Técnica Pluridisciplinar, através da contratação de 4 técnicos(as) superiores nas áreas da Psicologia, Serviço Social e Educação Social como também a qualificação da intervenção e dos interventores.

A partir de 2009, a Casa dos Rapazes e, mais uma vez, com o objetivo de aumentar a sua qualidade enquanto resposta social e nos termos dos compromissos assumidos no Plano DOM, foi concretizada a supervisão da intervenção técnica e socioeducativa junto dos quadros da Instituição.

Em termos da melhoria das condições segurança e conforto, ao abrigo dos apoios da Medida de Apoio à Segurança dos Equipamentos Sociais (MASES) foram realizadas obras parciais de recuperação e ampliação do Edifício Sede que decorreram entre Março de 2010 e Dezembro de 2012.

Também no que respeita ao seu Edifício Sede foi possível iniciar no ano de 2017, quando se completavam 65 anos da sua constituição, o processo de obras que vai permitir a sua completa remodelação, mercê da disponibilidade da Câmara Municipal que incluiu esta intervenção no programa municipal PEDU (Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano), com termos dos trabalhos previstos para Julho de 2018.

Em síntese, a intervenção da Casa dos Rapazes evoluiu de uma perspectiva assistencialista para uma intervenção sustentada numa visão mais abrangente das necessidades da criança/jovem, atendendo-se simultaneamente às mudanças que se verificaram no tecido social, tipologia das famílias e problemáticas psicossociais observadas. É uma instituição que tem vindo, ao longo dos tempos, a adequar e a atualizar as suas práticas educativas, de acordo com a evolução dos conhecimentos ao nível do desenvolvimento e da psicopatologia infantil mas também, acompanhando as mudanças na sociedade portuguesa e comunidade local.

Março de 2018
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